Você já se deparou passando horas ouvindo música lo-fi, na companhia de uma simpática e estudiosa garota de anime?
Pois, saiba que não é só você. As lives de mais de dez horas por dia contam com mais de 300 milhões de visualizações durante os cinco anos de canais especializados na música lo-fi.
Por isso, as rádios amadoras de lo-fi tomaram conta do cenário musical do YouTube. Acompanhe esse texto e saiba tudo sobre o assunto.
O que é lo-fi?
A maioria das playlists de música lo-fi no YouTube contam com músicas e remixes originais de hip hop.
O termo lo-fi vem da expressão low fidelity. Traduzido para o português, significa baixa fidelidade, ou seja, algo simples e feito em casa.
Por isso, as músicas são tocadas por muitas e muitas horas, sempre na companhia de um anime que está fazendo atividades diárias, como ler, estudar ou trabalhar.
As batidas são mais melancólicas e calmas e os títulos das playlists bem sugestivos, como “rádio lofi hip hop – batidas para relaxar/estudar” ou “radio 24/7 lofi hip hop – batidas para estudar/curtir/relaxar”.
As pessoas têm procurado métodos de relaxamento e calma no YouTube, como o ASMR ou White Noises. Porém, algo interessante é que a música lo-fi é o método relaxante mais procurado pelos millennials.
Por conta do grande sucesso, é possível encontrar batidas lo-fi com remixes das mais diversas músicas. A música brasileira está muito bem representada com Tim Maia, Tom Jobim e outros artistas famosos da nossa cultura.
Inclusive, vale lembrar que por mais que o lo-fi seja algo bem recente, a prática de se fazer música simples e feita em casa é mais antiga do que você imagina, e tem raízes bem brasileiras.
Do It Yourself, ou faça você mesmo
O músico e pesquisador brasileiro, Zeca Viana é um dos grandes entusiastas da música lo-fi. Ele acredita que ela não é um gênero musical, e sim algo que nos permite utilizar instrumentos amadores para fazer música. Por isso, podemos encontrar tanto um forró lo-fi, como um rock lo-fi.
A primeira pessoa a fazer uma música lo-fi foi o DJ estadunidense William Berger, em 1986. O nome lo-fi surgiu para contrastar com o hi-fi, ou high fidelity, ou seja alta definição.
O DJ tinha um programa de rádio que leva o mesmo nome. Nele, eram tocados 30 minutos de músicas lo-fi enviadas por ouvintes em fitas k7. Dessa forma, nasceu o nome lo-fi, mas a técnica era usada por diversas bandas desde os anos 60.
Os músicos se inspiravam na grande arte do faça você mesmo e faziam de tudo para tentar ficar famosos, o que teve um grande boom na década de 70, com as fitas k7.
Por isso, é tão difícil classificar o lo-fi como apenas um estilo de música, pois o modo rústico de fazer o som é que caracteriza o processo.
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Made in Brazil
A primeira gravação local brasileira a ser comercializada foram as gravações de Baratos Afins, como o Disco Voador, de Arnaldo Baptista, feito em fita k7. Outras grandes influências do lo-fi foram a banda Fellini, Chico Science e Nação Zumbi.
A primeira versão da música “A Cidade” foi gravada em lo-fi e foi lançada anos depois em hi-fi, no álbum “Da Lama Ao Caos”, de 1994.
Atualmente, a banda Boogarins e a aclamada Fresno também já apostaram no estilo lo-fi. Para não deixar que esse estilo musical escape da nossa cultura, o próprio Zeca Viana criou uma coletânea com bandas e artistas que gravaram músicas em casa desde 2010. A iniciativa se chama Recife lo-fi.
Além disso, Zeca também tem um programa de rádio dedicado a divulgação de música independente gravada em estúdios caseiros em Pernambuco
Como não podia deixar de ser, a relação entre o esse estilo de música e o rádio é bem estreita, pois foi nesse canal que o estilo teve sua origem.
Hoje, o estilo musical marca sua presença nas rádios piratas do YouTube, como o canal brasileiro SΔ†IERF. Felipe Satierf, dono do canal, cria remixes de músicas brasileiras na plataforma de vídeos.
O jovem já criou versões lo-fi de músicas cantadas por Seu Jorge, Legião Urbana e Tribalistas. Novo no cenário musical, sua inspiração surgiu acompanhando outros canais do mesmo nicho.
Dessa forma, ele encontrou uma maneira de apresentar grandes músicas brasileiras para a geração mais nova, que talvez não teria acesso aquela música se ela fosse tocada em sua versão original.
Por que o lo-fi é o queridinho dos millennials?
Além de ajudarem a manter a concentração durante o trabalho, leitura e estudo, as batidas desse estilo de música também são reconfortantes em momentos de tristeza, e até mesmo depressão ou crises de ansiedade.
Por isso, a Vice fez uma parceria com o College Music, um dos maiores canais de música lo-fi no YouTube. Juntos, eles fizeram uma campanha incrível de prevenção ao suicídio.
Essa ideia surgiu do próprio canal College Music, após seus criadores perceberam a enorme quantidade de comentários falando sobre tristeza, estresse e outros sentimentos negativos, além do suicídio.
A música lo-fi é uma maneira de relaxar a mente de jovens e adolescentes, que recebem um turbilhão de informações 7 dias por semana e 24 horas por dia.
A preferência dos millennials por esse estilo também pode ser caracterizada pela necessidade de marcar seu território e ressignificar a geração por meio da música. A linguagem usada nas batidas pode e deve ser usada para que os mais jovens encontrem sua própria identidade.
Então, você tem ouvido playlists de lo-fi ultimamente para ajudar a concentrar nessa quarentena? Quais são suas playlists preferidas? Deixe nos comentários!